Não dá para
interferir a todo instante com a mão pesada e impessoal do Estado
Na Europa e
nos EUA, jornais não cessam de debater a circuncisão. O pretexto é a decisão de
uma corte alemã de considerar que a realização do procedimento por razões não
médicas constitui uma forma de lesão corporal sendo, portanto, punível
criminalmente. A sentença revoltou as comunidades judaica e islâmica da
Alemanha. De minha parte, como bom judeu ateu, poupei meus filhos desse cruento
ritual primitivo, mas, diferentemente de certos grupos religiosos, não pretendo
que minhas escolhas pessoais sejam universalizáveis. Os militantes
anticircuncisão mais aguerridos a equiparam à excisão do clitóris, mas a
comparação é enganosa. A clitorectomia tem o objetivo de fazer com que a mulher
não sinta prazer no ato sexual. As repercussões da circuncisão masculina são
bem menos dramáticas.
É preferível reservar a intervenção, que pode ser legítima, para situações mais graves, nas quais a vida ou a saúde da criança estejam seriamente ameaçadas. Pais são, por razões evolutivas, os melhores guardiães para seus filhos. Ainda que pudéssemos redesenhar o mundo a partir do zero, dificilmente chegaríamos a solução melhor do que a encontrada pela natureza, que, após milhões de anos de tentativa e erro, logrou obter um equilíbrio sutil entre os interesses genéticos e individuais de cada parte.
Helio Schwartzman,
Folha de São Paulo, 30/09/2012
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